Porque todo mundo fala em bolha na área de TI

Com certeza você já deve ter ouvido falar em “bolhas financeiras”, também conhecidas como “bolhas especulativas”. Deixa eu explicar de uma maneira resumida, caso não nunca tenha ouvido falar

As bolhas acontecem quando os preços de um determinado ativo sobem muito acima da média do seu valor real e o que causa esse efeito é um comportamento manada das pessoas comprarem ativos por acharem que estão perdendo a oportunidade de ganhar dinheiro com a valorização do mesmo. De acordo com a lei da “demanda x oferta”, quando aumenta a procura por algo a tendência é que exista uma valorização nos preços e o contrário também acontece, ou seja, quando a procura é baixa os preços caem.

Entendendo essa lógica, quando as pessoas começam a enxergar muito valor em um determinado ativo ou especular que vão conseguir oportunidades de obter lucros desse ativo mesmo que na prática esse ativo não seja tão valioso assim. Faz com que a demanda pelo ativo em questão começa a ser valorizado cada vez mais e fazendo seu preço subir e alçando valorizações históricas. Até que alguém percebe que o real valor do ativo não está condizente com o preço e começam então as vendas em massa do ativo e é o momento em que a bolha estoura corrigindo os preços para algo mais próximo da realidade.

Os estágios das bolhas financeiras segundo o economista Hyman Minsky são:

ciclo da economia na visão de Hyman Minsky

Minsky's Cycle of the Economy IMAGE SOURCE: THE ST. LOUIS TRUST COMPANY

  1. Deslocamento – Quando as pessoas encontram um novo ativo para valorizar.
  2. Boom – Quando os preços começar a subir e ganhar força ao ponto de chamar a atenção de mais pessoas
  3. Euforia – Quando o efeito manda acontece e as pessoas compram simplesmente por ver o preço subindo cada vez mais
  4. Realização de lucros – Alguém percebe que o preço não é real e começa a realizar lucros
  5. Explosão de bolha – Todo mundo realiza lucro e as vendas em massa acontecem

A história nos mostra que as bolhas assim como as crises sempre acontecem e são cíclicas, ou seja, em qualquer momento podem voltar acontecer. Vale ressaltar que ninguém nunca sabe quando uma nova bolha vai acontecer ou estourar, com isso, só nos resta estar sempre de olhos nos mercado e enxergar as anomalias que acontecem.

Algumas das maiores bolhas que aconteceram no passado foram:

Vale a pena pesquisar um pouco sobre as duas primeiras bolhas e como aconteceram. Para a crise do subprime tem um excelente filme que recomendo para quem tem interesse chamado “The Big Short”.

A bolha das .com é a bolha que acredito que seja válido explicar por que tem muito a ver com nosso mercado. Essa bolha começou a se formar em 1997, que foi a época em que o www ficou famoso e começou a chegar nas casas dos usuários, com isso os primeiros serviços da internet começaram a surgir e rapidamente se popularizaram e começaram a receber grandes números de visitas. Com isso, alguns investidores começaram a ficar de olho na nova tecnologia que poderiam investir (estágio 1). A partir daí, o mercado começou a ficar aquecido quando os entusiastas começaram a criar qualquer site para ganhar acesso e depois tentar vender para algum investidor (estágio 2). Esse comportamento entre 97 e 99 levou as empresas de tecnologias começaram a ser avaliadas a múltiplos milionários (estágio 3), mesmo que a maioria dessas empresas mal tivessem um plano de negócio. Até que no ano de 2000 a festa do oba-oba das tech começa a desabar e o resto é história (estágios 4 e 5).

Agora que entendemos tudo sobre as bolhas e como elas acontecem, vamos tentar comparar com o mercado atual de tecnologia para ver se conseguimos encontrar alguma anomalia?

Padrão Amazon

Para entender a situação atual das empresas, primeiro temos que entender as estratégias que as empresas vêm utilizando, que é inspirado no caso de sucesso da Amazon. A lógica das empresas “queimadoras de caixa” é manter um nível elevado de investimentos principalmente na fase inicial para construir uma base de clientes sólida, conseguindo assim ganhar market share e consequentemente vantagem competitiva.

A Amazon desde quando abriu capital, em 1997, reportou prejuízo por oito anos e no início de 2000, em meio à bolha da internet, sua ação despencou e ela quase quebrou. Mesmo assim, nesse período, Jeff Bezos praticamente dobrou o número de clientes e lançou o marketplace. A estratégia permitiu otimizar custos de estoque e ter novas fontes de receita de comissões que, aliadas com o AWS em 2006, ajudaram a empresa a aumentar suas margens e agora ela é uma das empresas mais valiosas do mundo.

Só porque a Amazon foi capaz de ter sucesso, não significa que outros terão.

perdas acumuladas da Amazon ao longo do tempo

O gráfico acima compara as perdas acumuladas da Amazon ao longo do tempo com as de alguns unicórnios. Podemos perceber que vários unicórnios ultrapassam amplamente o pico de perdas acumuladas da Amazon de 3 bilhões de dólares em 2002.

Se a gente expandir a visão para outras startups as perdas acumuladas também estão crescendo rapidamente e podem muito bem atingir as perdas de pico da Amazon nos próximos anos.

perdas acumuladas de alguns unicórnios

Muitas destas startups têm enormes avaliações, como por exemplo o caso do Nubank. Vamos dar uma olhada no “pedacinho Nu”.

Com o seu IPO na Bolsa de Nova York, a fintech foi avaliada em US $41,5 bilhões e com esse valor conseguiu ultrapassar o banco Itaú que é o banco mais valioso da América Latina, nada mal! E os resultados?

resultados vs remuneração de instituições financeiras

Como o gráfico mostra o Nubank ainda continua dando prejuízo ou melhor dizendo... queimando caixa. Até o momento que to escrevendo este artigo a desvalorização de suas ações já ultrapassam os 65%. e a visão do CEO é

O modelo de um banco digital é muito mais rentável do que o de um banco tradicional, que não tem agências.” Por isso, esse US $1 trilhão vai aumentar “exponencialmente”. Mas para isso, leva tempo. “O jeito de entender a gente é a longo prazo. Continuamos focados na construção dessa estratégia”.

(Esse 1 trilhão é referente ao mercado bancário da América latina e que tem 240 milhões de pessoas fora do sistema financeiro e por isso vai aumentar)

“Daqui a cinco anos, a gente se fala”

Fim da festa?

O Nubank foi fundado em 2013, com mais 5 anos estamos falando de 14 anos, quase o dobro do tempo da Amazon. O que nos faz questionar se o modelo/estratégia da Amazon faz sentido nos dias de hoje? Até porque a maioria das empresas queimadoras de caixa hoje em dia tem mais de 10 anos de existência. Além disso, as perdas acumuladas para muitas dessas startups continuam aumentando sem sinal que vai reverter.

Além do fator tempo outros desafios apareceram no caminho das empresas: pandemia, guerra e agora aumento da inflação ao redor do mundo, fazendo naturalmente o dinheiro de investidores começarem a migrar para outro tipo de ativos menos arriscados. E para agravar o cenário a concorrência dessas empresas também cresceu... Netflix, Nubank e Uber que o digam.

Com tantas incertezas econômicas em escala global os investidores vão parar de injetar capital nessas empresas em busca de segurança, obrigando as empresas a reduzir custos e o efeito disso já está começando.

Nas últimas semanas uma onda de cortes e demissões em massa vem acontecendo em algumas startups como: QuintoAndar, Loft, Facily, LivUp, Zak, Olist e lista não para, já que até a Vtex entrou também. Além disso, a SoftBank e a Y Combinator já declaram publicamente desacelerar investimentos.

Considerações finais

Conseguem enxergar como temos bastante pontos semelhantes nos dias atuais com os vividos nos anos 99 e 2000? Mesmo assim não tem como afirmar que temos uma bolha ou que vai ser uma simples desaceleração do mercado. Também não podemos prever o que vai acontecer com a grande maioria dos profissionais de TI que entraram recentemente na área.

comentario de ex funcionario da Olist

A única coisa que nos resta fazer é estar preparado, ou seja, estar em constante evolução e evitar cair em armadilhas que podem nos prejudicar em caso de algum peneirão acontecer no futuro. Lembrem-se que sempre haverá espaço para os mais capacitados.

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